Sabia que Portugal é o segundo país do mundo com a taxa de depressão mais elevada, apenas ultrapassado pelos Estados Unidos da América? Por ano, estima-se que 400 mil portugueses entre os 18 e os 65 anos sofram de depressão, sendo que um terço dos doentes não está a receber o tratamento de que precisa.
A abordagem terapêutica mais comum na depressão é o uso de fármacos. Na realidade, o Relatório do Programa Nacional para a Saúde Mental, referente a 2016, concluiu que os portugueses usam cada vez mais antidepressivos – situação que preocupa a comunidade científica. Desta forma, é necessário encontrar soluções terapêuticas alternativas à medicação, ou que possibilitem a redução da medicação.
Uma das mais recentes alternativas terapêuticas é a estimulação magnética transcraniana (EMT). Esta técnica foi aprovada em 2008 e, desde então, tem sido utilizada para tratar a depressão em pacientes que não respondem à medicação antidepressiva, que não conseguem tolerar os efeitos secundários da medicação, ou que preferem tentar uma alternativa à medicação.
Desde há 3 décadas que a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) tem vindo a ser utilizada na práctica clínica, pelo que têm sido realizados imensos estudos com vista a avaliar a segurança deste método, sendo que até ao momento considera-se como risco mais grave o seu potencial para causar uma convulsão.
Em 1998 foram estabelecidas as primeiras normas de segurança para a EMT repetitiva (pulsos magnéticos administrados em trens consecutivos) e, em 2009 voltaram a publicar-se as recomendações para um uso seguro da EMT repetitiva, sendo estimado um risco de convulsão de 1 em cada 10.000 sessões de tratamento.
Uma das mais recentes investigações para quantificar o risco de convulsão por EMT, bem como a ocorrência de outros eventos adversos, foi conduzida por uma equipa norte-americana e aceite para publicação na revista científica Clinical Neurophysiology.
Esta equipa de médicos e investigadores utilizou a EMT de 2012 até 2016, e os seus resultados oferecem uma abrangente avaliação da segurança da EMT e, em particular, a taxa à qual as convulsões ocorrem em vários protocolos de estimulação.
No total, foram registadas apenas 24 convulsões em 318.560 sessões (ou seja, 8 convulsões por cada 100.000 sessões), e apenas 4 destas 24 crises (17%) ocorreram em indivíduos sem risco prévio de convulsão. Ou seja, a probabilidade de convulsão em pessoas sem um risco acrescentado é de apenas 1 em cada 80.000 sessões.
Na NeuroVida, além de seguirmos as directrizes acima referidas, fazemos rigorosa selecção e avaliação dos pacientes, incluindo estudos eletroencefalográficos para garantir a minimização do risco.
Até a data, com mais de 1500 sessões administradas na nossa clínica, não ocorreu nenhuma convulsão, complicação ou efeito adverso maior.
O tratamento dos episódios depressivos têm sido uma tarefa difícil para os psiquiatras, sendo focada quer em aspetos farmacológicos, quer não farmacológicos (psicoterapia, estruturação cognitiva, reorganização da situação social, entre outros). A farmacologia existente, apesar dos claros avanços que promoveu no tratamento destas pessoas, reveste-se ainda de alguns efeitos secundários indesejados, além de não garantir uma remissão completa dos sintomas em todos os casos.
Ao longo dos anos, a comunidade científica tem pesquisado outras formas de tratamento, complementares ao uso de fármacos, e foram desenvolvidas novas estratégias, não invasivas, sem necessidade de anestesia, e com uma quantidade de efeitos secundários francamente menor. A evidência crescente aponta para a sua eficácia, tendo sido já aprovada em vários países no tratamento da depressão refratária
Claramente, um dos futuros do tratamento das perturbações depressivas deverá passar pelo desenvolvimento deste tipo de técnicas, tornando-as eficazes armas terapêuticas para as pessoas com esta patologia.
Dr. Miguel Nascimento, Médico Psiquiatra