A estimulação elétrica transcraniana (tES, em inglês) é uma técnica de estimulação cerebral não invasiva e indolor que utiliza correntes elétricas fracas que passam através do couro cabeludo para o cérebro, modificando as atividades neuronais subjacentes à área que está a ser estimulada e a conectividade da mesma nas redes neuronais.
A tES tem várias técnicas diferentes: estimulação transcraniana com corrente direta (tDCS, em inglês), estimulação transcraniana com corrente direta pulsada (ptDCS), estimulação transcraniana de corrente alternada (tACS, em inglês) e estimulação de ruído aleatório (tRNS, em inglês). A técnica mais estudada e mais utilizada é a tDCS, mas a tACS também está a ganhar cada vez mais atenção na comunidade científica.
A tDCS é realizada com recurso a um equipamento que contem uma bateria elétrica (neuro estimulador). A dose (carga elétrica total) de estimulação aplicada depende de vários parâmetros, nomeadamente, da intensidade da corrente (1-2 mA), da duração da estimulação (em média 20 minutos), do número de sessões administradas e da montagem dos elétrodos (tamanho e posição).
Em particular, a posição dos elétrodos depende da área cortical que se quer modular. Habitualmente, são colocados dois elétrodos sobre o couro cabeludo (ânodo e cátodo) que são previamente embebidos em solução salina. Um deles será ativo (ânodo se pretendemos estimular; cátodo se queremos inibir) e o outro de referência ou retorno.
Assim, a corrente fraca aplicada sobre uma ou mais áreas permite modular a atividade cerebral subjacente excitando ou inibindo (aumentando ou diminuindo a atividade).
A tDCS é um método que permite:
A modulação da neuroplasticidade, do substrato da memória, da aprendizagem e muitas outras propriedades emergentes do cérebro, facilita a adaptação a novas situações ambientais e uma maior eficiência na resposta.
A tDCS é uma técnica complementar aos tratamentos convencionais (ex. fisioterapia, terapia ocupacional, terapia da fala, neuropsicologia, etc) e que tem como objetivo acelerar a recuperação, ao facilitar a aprendizagem motora, as funções cognitivas e o controlo emocional.
Está demostrado que a aplicação repetida de tDCS durante períodos de várias semanas pode induzir mudanças duradouras na conectividade do cérebro e influenciar a capacidade motora, cognitiva ou de controlo emocional/comportamental, e assim induzir melhoras clínicas significativas.
Ainda que os efeitos clínicos dependam de vários fatores (patologia, causa, heterogeneidade clínica, técnica utilizada, área cortical estimulada, protocolo, magnitude do efeito) a duração do efeito mantém-se entre 2 e 4 meses. Os benefícios clinicamente significativos (+15% de melhoria) têm se verificado em mais de metade dos pacientes tratados após 90 dias do tratamento, e a tolerância é superior a 90% (9 em cada 10 concluem o tratamento sem desistir e não relatam efeitos adversos ou secundários).
Os sintomas das perturbações de humor (depressão, perturbação obsessiva compulsiva, stress pós-traumático, ansiedade fobica), da dor neuropática e fibromialgia, a insónia, o défice de atenção e o controlo motor revelam melhorias após 20 sessões de tratamento.
As sequelas motoras de AVC ou TCE, afasias, adições, controlo de impulsos, perturbações alimentares, disfunção executiva, esquecimentos, enxaqueca, zumbido, entre outros atingem melhorias significativas após 30 sessões.
Pode ser indicada para patologias neurológicas, perturbações funcionais, doenças do foro psiquiátrico, entre outras, sendo as mais frequentes:
Além disso, tem sido utilizada para potenciar capacidades cognitivas (Neuroenhacement)
A duração média de uma sessão de tDCS é de entre 20 a 30 minutos. Pode ser realizada entre 1 a 5 vezes por semana. O número de sessões prescritas depende da necessidade de cada caso em particular, mas geralmente varia entre 20 a 30 sessões ou mais.
Não. A tDCS é uma técnica não invasiva e indolor.
Sim! Não há qualquer interferência com a medicação.
Os efeitos secundários relatados incluem sensações de formigueiro e comichão, bem como vermelhidão durante a estimulação devido ao contacto com o elétrodo. Também podem ocorrer dor de cabeça e fadiga após a estimulação. Contudo, estes efeitos são ligeiros, transitórios, não comprometem funções vitais, e acontecem apenas num terço dos pacientes.
A maior limitação é que não devem ser aplicados em doentes que tenham implantados dispositivos médicos eletrónicos (ex. marca passos), tenham materiais ferromagnéticos (ex. clipes metálicos) dentro da cabeça a ou soluções de continuidade da calota craniana (craniotomias). Também, não deve ser aplicada a quem tenha queimaduras, feriadas ou abrasoes na pele perto do local da estimulação. Recomenda-se não ingerir estimulantes (café, álcool, etc) no mínimo 3 horas antes da sessão de estimulação.
Geralmente são evidentes entre a 10ª e 12ª sessão, e são duradouros após 15 sessões. No entanto, as melhorias dependem de cada caso em particular.
Cerca de 25 a 30% dos pacientes podem não obter ganhos ou este ser insuficiente para considerar-se de utilidade. A idade avançada, a comorbilidade e a gravidade/cronicidade dos sintomas são fatores de resposta negativos, mas só apos 10 sessões se pode identificar um potencial fracasso terapêutico.
Na NeuroVida, deve agendar uma consulta com o médico neurologista ou psiquiatra, de modo a transmitir as suas queixas e/ou condições, referindo o seu interesse em realizar este procedimento. Depois, de acordo com o historial clínico e as queixas apresentadas, poderá ser necessário realizar uma avaliação psicológica ou neuropsicológica, de modo a definir-se melhor o plano de tratamento individualizado às necessidades de cada pessoa. Também, é necessário realizar um eletroencefalograma (EEG) para avaliar a presença de focos epiléticos que não permitem a realização deste tratamento.